domingo, 28 de outubro de 2012

COMBUSTÍVEL COM AR E ÁGUA?


Chama-se Air Fuel Synthesis e é uma pequena empresa britânica que anunciou ter desenvolvido uma tecnologia que poderá tornar-se numa alternativa ao petróleo. Segundo a empresa os seus cientistas e investigadores conseguiram produzir combustível a partir de ar e água. Mais precisamente, a partir de hidrogénio extraído de vapor de água e gás carbónico. A novidade despertou  a atenção da imprensa britânica, principalmente depois de ter sido destacada pelo Institution of Mechanical Engineers, de Londres. A tecnologia envolvida nesse processo não é totalmente nova. Algo semelhante já vinha a ser investigado por laboratórios de vários países, entre eles o Centro de Tecnologia Industrial Tokushima, no Japão, e o Centro de Estudos de Materiais Freiburg, na Alemanha. Basicamente, consiste em extrair dióxido de carbono do ar e hidrogénio do vapor de água (por eletrólise) e, em seguida, combinar as duas substâncias numa câmara de alta temperatura. O processo produz metanol, que é então convertido em combustível. A  Air Fuel Synthesis, conseguiu criar um pequeno protótipo de refinaria no qual a produção é feita de forma constante. De o acordo com o diretor da empresa, Peter Harrison a ideia é erguer, no prazo de 15 anos uma unidade de produção à escala comercial.
Para já trata-se apenas de uma tecnologia com um espetro evolutivo considerável. A ver vamos se vingará. Mas o caminho alternativo ao petróleo está a ser trilhado. Disso não restem dúvidas.




DRILL, BABY, DRILL!


Tornou-se célebre a frase do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, sobre as janelas dos aviões: "Quando há um fogo(...) não se consegue obter oxigénio porque não abrem. Não sei porque é que elas não abrem. É um verdadeiro problema". Esta afirmação correu o mundo e demonstra que o ser humano não pode "perceber" de tudo. Há, todavia, questões que são quase do senso comum, como esta das janelas dos aviões, que qualquer jovem em idade escolar já aprendeu na física. 
Outro assunto "quente" da campanha às presidenciais americanas entre Romney e o democrata Obama tem sido, como não poderia deixar de ser, o tema da energia, um dos setores de maior importância nos estados unidos, onde o petróleo é rei e senhor. Os americanos são o terceiro maior produtor e o maior importador de crude do mundo. A seguir ao petróleo, o gás natural e o carvão assumem-se como a segundas fonte energéticas praticamente com pesos idênticos no mix energético primário. Apesar dos significativos progressos americanos no domínio das energias renováveis para produção de eletricidade a economia estadunidense ainda é alimentada (e será nos próximos anos) por energia fóssil. 
Umas das apostas da administração Obama no seu primeiro mandato presidencial foi a mobilidade elétrica através de subsídios à industria para que esta se (re)afirmasse a médio prazo no setor automóvel mundial. Algo que parece convictamente condenado ao abandono por Romney. Aliás o candidato republicano afirmou mesmo que "as energias alternativas como o vento e o sol são muito boas mas, infelizmente, não se pode guiar um carro com um moinho em cima." Mais do que uma gafe esta afirmação representa a preferência assumida por Romney pelas energias fósseis.
Apesar de a administração Obama não estar isenta de sinais de apoio à industria fóssil - aumentou as licenças de perfuração no mar e assiste impávido à polémica que envolve a técnica de fracionamento hidráulico (fracking) cujas consequências ambientais ainda estão por conhecer - a sua estratégia parece mais equilibrada direcionando a sua política no sentido de garantir uma transição da base energética americana para um mix sustentável que garanta segurança no abastecimento com menor impacto ambiental e a custos suportáveis pela sua economia.
Resumidamente, quer um quer outro candidato sabem que a transição do sistema energético de uma nação não se faz de um dia para o outro, tem que ser realizado de forma equilibrada e sustentável. Porque a economia não pára e do outro lado estão os gigantes que ameaçam ultrapassar os estados unidos como maior potência mundial.
Seja quem for o vencedor parece que o famoso conceito republicano das eleições de 2008, "drill, baby, drill" vai continuar por terras americanas. Os desafios económicos assim determinam.


Sugestão de leitura:
 http://www.voanews.com/content/obama-romney-differ-on-energy-policy/1534582.html

sábado, 27 de outubro de 2012

SOMBRAS CHINESAS


A revista Sábado publicou na sua edição da semana passada um artigo segundo o qual o Ministério Público suspeita que a venda dos 21,35% das ações da EDP – Energias de Portugal -  detidas pelo estado português aos chineses da China Three Gorges Corporation, que ocorreu em finais do ano passado, poderá estar “manchada” na presumível transparência do negócio. Ao que parece, os chineses foram avisados do valor das propostas dos outros concorrentes. Na prática, os chineses tinham seis propostas diferentes e ao serem informados do valor da proposta mais alta da concorrência, deixaram cair a oferta mais elevada lesando o estado português em 117 milhões de euros. Recuando até ao dia 30 de Dezembro de 2011, recordo o degradante e cómico espectáculo com que os nossos canais televisivos nos resolveram brindar transmitindo em directo(!) a cerimónia de assinatura do contrato com os chineses. Uma lamentável (mais uma) demonstração da nossa pequenez onde os nosso governantes mais pareciam pedintes do que representantes de um estado soberano. Todos sabemos que este negócio foi o que se pode chamar uma desgraça inevitável. E pelos vistos a apregoada transparência com que decorreu o processo é posta, agora, em causa. Esta venda dos 21.35% da EDP pelo valor conhecido de 2690 milhões de euros foi um verdadeiro saldo que entregou o controlo da segunda maior empresa nacional ao preço da uva mijona. Por isso, não foi de estranhar o rasgado sorriso que o senhor Cao Guangjing e companhia ostentavam quando assinaram o contrato com os pedintes portugueses, que lhes embicava ainda mais os olhinhos já de si em bico! Sem dúvida paira uma sombra chinesa sobre a energia em Portugal.


 foto: DN online

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ONDAS DE BUROCRACIA


Tem sido apontado como um sério entrave ao investimento externo no nosso país a excessiva e morosa burocracia que qualquer empresa em qualquer setor encontra se pretender vir para Portugal. Existem quatro multinacionais interessadas em investir em Portugal em investigação no domínio da energia das ondas em zonas piloto ao longo da costa portuguesa que acabarão por desistir caso as dificuldades de licenciamento continuem.Com uma economia fragilizada qualquer "input" é bem vindo desde que signifique entrada de capital e criação de emprego. Mesmo assim, espero que estes projetos sejam devidamente ponderados e analisados na ótica do custo/benefício por forma a não onerar ainda mais as tarifas da energia pagas por todos nós. Interessante seria mesmo se o nosso país se virasse  para o setor energético não como cobaia dos outros (o habitual) mas como líder tecnológico através da investigação e desenvolvimento. Competência e condições técnicas parecem não faltar. Falta visão e capacidade de quem decide.O não aproveitamento da riqueza natural de um país é como um punhal cravado na sua economia. E a morte é lenta e dolorosa.




"MONOCLADAS" ENERGÉTICAS!


Finalmente tive a oportunidade de ler a revista inglesa Monocle que dedicou o seu último número aos países lusófonos e às suas potencialidades. Sinceramente cometi o erro de “ir com muita sede ao pote” e fiquei desiludido com a superficialidade com que é abordado este suposto “potencial” que os britânicos agora descobriram.
O artigo sobre os Açores é acompanhado por dez “modestas sugestões”-tradução à letra - que insinuam potenciais áreas de intervenção que poderiam catapultar a região para um patamar superior ao nível da sua projeção internacional, dinamização da economia e afirmação num contexto global. Como é absolutamente natural uma das “modestas sugestões” refere-se à área energética.
  
O texto acima carece de alguns “acertos” que passo a elencar:
1º Não é verdade que 52% da energia elétrica produzida nos Açores provenha do aproveitamento de energia primária geotérmica. Esta apenas é explorada em São Miguel correspondendo esse número à taxa de penetração aproximada na ilha. No contexto das nove ilhas a sua expressão desce consideravelmente. O total de energia elétrica produzida via fontes renováveis ronda os 30%.
2º A meta de 75% de penetração de energias renováveis na região em 2018 foi revista em baixa e é agora de 60%. Na altura em que o autor do artigo visitou os Açores estes números já eram conhecidos pelo que não se entende o erro.
3º A sugestão termina com a pergunta: “Porque não exportá-la?”. Mas exportar o quê? Energia? Em contentores,caixas ou sacos? O autor esquece-se que somos nove ilhas isoladas e que a exportação de energia elétrica está fora de questão.
Podemos ser, isso sim, um potencial centro de investigação e desenvolvimento na área da energia. E isso sim é exportável.

ENDIVIDADOS À FORÇA!


A sustentabilidade de um sistema energético assenta em três pilares estruturais: a segurança do abastecimento (capacidade de resposta da oferta em função da procura), o respeito pelo ambiente e o custo unitário da energia no sistema. A classificação da matriz energética de um país quanto à sua sustentabilidade é complexa e envolve a conjugação de fatores que devem ser analisados transversalmente e que incluem, além dos três referidos, fatores sociais e políticos apenas para citar dois dos mais importantes. A perceção de sinais de insustentabilidade é menos complicada e assume uma maior visibilidade. Assemelha-se um pouco à situação atual do nosso país: todos veem que a situação económica portuguesa é insustentável mas não se vislumbram alternativas de fundo. E como diz o velho ditado: “Na casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Sem considerar a questão energética não há, pois, sustentabilidade a nenhum nível. Sem energia a economia não se desenvolve. E se a economia não se desenvolve, as condições de vida das populações deterioram-se.
No setor elétrico os sinais de insustentabilidade são conhecidos por todos nós e tiveram o seu apogeu na era socrática da nossa governação. As negociatas de Sócrates, Pinho, Zorrinho e Mexia fizeram disparar os chamados sobrecustos do sistema elétrico que estão na base do voluptuoso défice do tarifário português. Politicamente estes sobrecustos são imputados ao consumidor final de eletricidade. Assim, cada consumidor português (continental, açoriano ou madeirense) paga mensalmente uma quantia que atinge quase metade do valor total da fatura que corresponde aos chamados “custos políticos” da eletricidade. Trata-se de um imposto que é pago em grande parte para compensar a diferença entre a tarifa da eletricidade e os benefícios pagos aos produtores, sobretudo em regime especial (eólicas, cogeração, microgeração, etc.), para além das badaladas “rendas” do setor, todas pagas aos produtores.
No passado dia quinze de outubro a ERSE – entidade que regula o mercado da energia em Portugal – publicou a sua proposta de aumento das tarifaselétricas para 2013. Teremos, em princípio, um aumento de 2,8% que se verificará também nos Açores e Madeira durante todo o ano sendo que no continente a situação passará a ser revista trimestralmente no âmbito da transição para o mercado liberalizado que se prevê concluída em 2014.
Teremos, portanto, um aumento idêntico à tarifa regulada do continente graças ao regime de convergência do tarifário, sem dúvida, uma das brilhantes conquistas dos governos socialistas açorianos. Nunca nos poderemos esquecer que o setor elétrico regional também é insustentável e que, para pagarmos as mesmas tarifas do restante país, recebemos uma compensação anual que é paga por todos os portugueses e é incluída nos ditos “custos políticos”.
Apesar dos cortes anunciados nos sobrecustos do sistema elétrico impostos pela troika mas que acabaram por ficar abaixo das expetativas, continua a verificar-se um aumento destes impostos. Paralelamente assiste-se a um aumento dos custos diferidos decorrentes dos alisamentos e das medidas mitigadoras legislativas que visam controlar os aumentos anuais das tarifas. Sem estes instrumentos teríamos aumentos brutais. Com eles adia-se o pagamento da dívida do setor elétrico, os custos a recuperar, que serão pagos mais tarde com juros.
Lembre-se disto: mesmo que não tenha dívidas ao banco, na farmácia ou na mercearia da esquina da rua onde mora, se é consumidor de eletricidade faz parte dum grupo de endividados que deve mais de três mil milhões de euros! E vai ter de pagar, mais cedo ou mais tarde.