Foi
recentemente publicada a informação estatística referente ao setor elétrico na
Região Autónoma dos Açores, no ano 2012. Da análise do documento ressalta a
quebra do consumo relativamente a 2011 na ordem dos 5,1%. Antes de mais convém salientar
que os valores de energia consumida disponibilizados se referem ao consumo
faturado que pode apresentar algumas discrepâncias relativamente ao consumo
real. Sendo que o hábito de comunicar as leituras mensais à empresa fornecedora
(EDA) não se encontra suficientemente enraizado na generalidade da população e
a recolha desses valores pela empresa não é feita com periodicidade mensal, as
faturas são na generalidade inflacionadas com um valor estimado que não
corresponde ao consumo real. Assim, há que considerar essa margem de erro que,
mesmo eliminada, não iria alterar o significado e a tendência dos valores.
A quebra de
5,1% no consumo confirma e agrava a orientação verificada em 2011 onde a
redução de consumo se situou em 1%. Entre 2006 e 2010 os consumos cresceram à média
de 2,6% ao ano nos Açores, numa conjuntura económica muito diferente da atual e
acompanhando o comportamento do setor um pouco pelo mundo fora. O valor global
da energia consumida no arquipélago desceu aproximadamente ao nível registado
em 2007, ou seja, representa uma regressão de cinco anos! Se esta redução se
distribui por quase todas as ilhas, a mais pequena de todas (Corvo) foi onde se
registou o único aumento (+1,2%) o que não deixa de ser, no mínimo, curioso.
Se
considerarmos o consumo por setor nota-se uma quebra generalizada em todos
eles, desde o doméstico ao industrial notando-se apenas um muito ligeiro
aumento (+0,8%) no consumo do comércio e serviços em média tensão.
No setor da
iluminação pública (IP), depois da celeuma criada no início de 2012 com o programa
de cortes levado a cabo pelo governo regional e municípios, registou-se um
significativo crescimento do fornecimento em média tensão (+19,6%) sendo que a
empresa concessionária das SCUT é a única cliente de IP neste nível de tensão. No
consumo de IP em baixa tensão o ano terminou com uma redução de apenas 3,9%,
bem longe das estimativas que foram anunciadas ao longo do ano (30%). Neste
domínio e pelo facto de coexistir um número significativo de circuitos mistos que
alimentam vias regionais e municipais a determinação do valor real de poupança quer
do governo quer dos municípios não é possível de determinar pela simples
análise destes números. Mais uma vez o cidadão contribuinte fica sem saber
tudo.
Ao nível da produção o panorama acompanhou o consumo, como é
natural. Não sendo a energia elétrica armazenável em larga escala, se a procura
baixa a oferta acompanha essa descida. Se no período 2007-2010 assistimos a uma
produção renovável média de 27,1%, em 2011 atingiu-se o valor mais alto com 30%
da energia total a ser obtida através de recursos renováveis, sobretudo
geotermia (apenas em São Miguel), eólica e hídrica. Em 2012 o peso das
renováveis foi de apenas 28%. Em parte, este decréscimo justifica-se pela
paragem forçada da central geotérmica da Ribeira Grande e da redução da
produção eólica e hídrica em algumas ilhas.
Mesmo assim, a penetração de
energia eólica cresceu na região 90% (duplicação da potência da Serra do Cume na
Terceira e entrada em funcionamento do parque dos Graminhais em S. Miguel) não
sendo suficiente, no entanto, para compensar a quebra na geotermia e noutras
fontes endógenas em algumas ilhas.
Uma breve nota para o crescimento (+110%) da microgeração no arquipélago, essencialmente fotovoltaica, que apesar de ter um peso residual na produção global evidencia uma clara aposta neste setor de mercado energético (microprodução) em boa parte devida à excelente aplicação do programa PROENERGIA, uma boa medida do governo açoriano.
Uma breve nota para o crescimento (+110%) da microgeração no arquipélago, essencialmente fotovoltaica, que apesar de ter um peso residual na produção global evidencia uma clara aposta neste setor de mercado energético (microprodução) em boa parte devida à excelente aplicação do programa PROENERGIA, uma boa medida do governo açoriano.
Em resumo,
os números evidenciam uma clara e dispersa retração dos consumidores face à
atual conjuntura socioeconómica e à necessidade de contenção de despesas. Os
açorianos na generalidade sofreram uma “consciencialização energética forçada”
pelos piores motivos.
Para 2013 as
previsões podem ser assentes numa projeção idêntica com a agravante do aumento
das tarifas em 2,8% e das perspetivas de encerramento de mais empresas e
maiores dificuldades dos consumidores domésticos que levará a maiores cortes
nos consumos.
A ver vamos mas, para já, o panorama é “escuro”.