terça-feira, 26 de março de 2013

INFORMAÇÃO SOBRE O DIFERENCIAL DO PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS NOS AÇORES DESAPARECE MISTERIOSAMENTE DO PORTAL DO GOVERNO



Todos os açorianos sabem que a gasolina, gasóleo e gás são subsidiados para se manterem a preços mais baixos no arquipélago. Até há bem pouco tempo o portal do Governo dos Açores tinha em destaque o diferencial dos preços dos combustíveis na região relativamente ao Continente e Madeira. Esta informação era apresentada como uma questão de orgulho do nosso governo – o de Carlos César – perante o “seu” povo. Algo perfeitamente aceitável e que constitui, sem dúvida, uma atenuante das desigualdades insulares e uma mais-valia para os açorianos.
Quem costuma visitar o portal do Governo dos Açores já deve ter reparado que, estranhamente, a destacada informação do diferencial dos preços dos combustíveis nos Açores desapareceu e assim se mantém há várias semanas. Uma pesquisa permite encontrar informação desatualizada mas o realce já não existe no portal.
Sinal de que se prepara o fim desta diferenciação positiva? Não seria de admirar que assim fosse, em tempos de cortes por todo o lado. Mantenhamo-nos atentos aos próximos tempos.

FMI "DESAPONTADO" COM AS TARIFAS DE ELETRICIDADE



O chefe da missão do FMI, Abebe Selassie, manifestou-se recentemente “desapontado” com o facto dos preços da eletricidade e das telecomunicações não terem descido e que esta questão é importante para garantir que os sacrifícios são repartidos de forma justa. Em entrevista à Lusa por telefone a partir da sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, Abebe Selassie, volta a demonstrar algum desalento das instituições internacionais sobre as reformas no mercado de produto e, apesar de elogiar a tentativa do Governo, diz que a 'troika' vai estar atenta aos desenvolvimentos nestes setores e se necessário revisitar o que já foi feito. "Penso que o principal objetivo para os preços da eletricidade, das telecomunicações e de outros setores não transacionáveis é se estão em linha ou começam a cair à medida que a concorrência aumenta ou a procura diminui. Até agora não o estamos a ver e isso é muito desapontante. Se não responderem às condições económicas penso que definitivamente teremos de olhar para o que o se passa e revisitar as reformas", afirmou o responsável máximo da equipa do FMI para Portugal.
Curiosamente e no dia anterior a esta notícia, o secretário de estado da Energia, Artur Trindade, afirmou que o défice tarifário no setor elétrico vai ascender a 3,7 mil milhões de euros no final de 2013. No próximo ano subirá ainda mais, prevendo-se que possa ultrapassar ligeiramente os €4000 milhões e que só em 2015 começará a baixar.
Um défice que "mais tarde ou mais cedo, vai acabar por se refletir na fatura mensal da eletricidade paga pelos consumidores", disse.
Não será fácil reduzir as tarifas, sobretudo da energia elétrica, fruto desta "dívida" dos consumidores imposta pela política energética portuguesa seguidora das FIT "feed-in tarifs" alemãs. E talvez nem seja desejável. Este modelo de incentivo ao investimento em fontes renováveis como a solar e a eólica (exemplos) garante aos produtores a venda integral da energia que produzem a custos elevados e independentemente das necessidades do consumo. Sobretudo no setor eólico temos assistido a situações com alguma frequência e durante a noite em que a produção excede o limite técnico admitido pela rede nacional sendo essa energia vendida à rede transeuropeia (através de espanha) a custo zero.
Esta política funciona mais ou menos assim: se queremos um país "verde" com elevada taxa de produção renovável e elevado comprometimento com as políticas ambientais europeias temos de pagar! E isso custa muito dinheiro. Estes centros eletroprodutores são caros e de capital intensivo, logo o preço da energia que produzem tem de ser pago a preços elevados. A diferença entre o preço pago ao produtor e o de venda ao consumidor, depois de somados todos os valores associados, gera um défice que está a ser liquidado pelos consumidores, nacionais e regionais (excluindo a industria), "a prestações" nas suas faturas mensais de eletricidade. Outro problema são as famosas "rendas excessivas" que não são mais do que compensações financeiras aos produtores que investiram em centrais convencionais e que depois as viram paradas para injetar na rede a energia vinda da chamada produção em regime especial, estas com total prioridade no acesso à rede de distribuição.
Para controlar as tarifas e não sobrecarregar o consumidor têm sido acionados mecanismos de deferimento que adiam no tempo o pagamento desta dívida. Mas este adiamento resulta no pagamento de juros elevados já que o montante anual do défice é titularizado junto da banca.
Esperemos que o Sr. Selassie tenha uma fórmula mágica para fazer baixar os preços com esta dívida por pagar. É que ficar "desapontado" não nos serve se consolo nem atenua as dificuldades que as famílias enfrentam para pagar as faturas da energia. Mas baixar as tarifas não me parece a opção mais racional. Conveniente seria desonerar o consumidor deixando este de  pagar os custos da política energética para os quais não se pronunciou, tal como em tantas outras situações do passado.




segunda-feira, 25 de março de 2013

AFINAL A "MARIA CORISCA" PREOCUPA-SE COM A ENERGIA!



Na sua presença dominical nas páginas do Correio dos Açores, a inigualável Maria Corisca escreve esta semana sobre o meu tema de paixão: energia. Pois fiquei imensamente contente por a cirúrgica comentadora ter dedicado umas linhas do seu precioso espaço a esta temática tão importante e tantas vezes esquecida por quem não devia. Escreve, então, a Maria Corisca:

“Meus queridos! Ontem à noite estava a dar uma voltinha pela cidade de Ponta Delgada, depois de ir entregar os meus recadinhos ao director do jornal que tão generosamente me acolhe no seu seio, quando, de repente, vi tudo escuro. Pensei que estava a ter um fanico, mas não! Aquilo era a hora do Planeta… Luzes apagadas na cidade toda, para a gente ver as estrelas e para se lembrar que é preciso poupar a Terra. E eu pensei cá comigo: então não é que eu tenho várias horas do planeta todos os dias quando me desligam a luz da rua às cinco e meia da manhã para poupar uns euros que são logo absorvidos pelos custos crescentes com a iluminação pública? Deixem-se de fantasias e pensem mas é em investir em sistemas de iluminação pública mais baratos e eficientes…. Por exemplo como é que vão remodelar o Campo de São Francisco e no milhão que vão gastar não incluíram uma ventoinha que pudesse contribuir para iluminar o campo e o convento poupando depois no consumo. Ricos! O que precisamos não é da hora do Planeta… Precisamos sim é de tempo de mudança!.. Sem rebentar os fusíveis nem descoser muito a carteira!”

A Maria Corisca está certa em parte do que escreve. No entanto sei que ela não ficará ofendida se lhe fizer duas ou três correções que considero importantes. Aliás, por mais que se queira não se pode “chegar” a tudo.
Quando escreve em instalar uma ventoinha, a Maria Corisca refere-se a um aerogerador, uma maquineta que roda com o vento e produz eletricidade. Pois não me parece que fosse, sequer, permitido instalar tal coisa no centro da cidade e ainda mais naquela zona. Agora se a Maria Corisca acha que no projeto de remodelação da iluminação do Campo de São Francisco devem optar por luminárias (candeeiros para a Maria Corisca perceber) de tecnologia LED, muito mais eficientes do que as atuais, aí eu concordo em absoluto! É que no documento que li falava-se em lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão que mesmo equipadas com balastros eletrónicos são incomparavelmente menos eficientes do que as LED. E porque não estarem equipadas com painéis solares fotovoltaicos independentes? Seria, também, uma marca distintiva do "novo" Campo de São Francisco. Até o nosso novo Papa daria pulos de alegria, ele que tanto tem falado em respeitar o ambiente.
Atualmente fazer uma obra destas e não ter cuidado com estes detalhes é quase crime. E não venham com a desculpa do preço dos equipamentos. Isso já não pega!
Quanto a dizer que “precisamos não é da hora do Planeta… Precisamos sim é de tempo de mudança!”, permita-me concordar com a parte da mudança mas discordar quando diz que a Hora do Planeta não serve para nada. Se assim é, a Maria Corisca também não deve concordar com petições, manifestações, e outras coisas do género. Não é o que transparece do que escreve no jornal que, curiosamente, também “me acolhe no seu seio”.
Bem haja Maria Corisca e espero vê-la, ou melhor, “lê-la” mais vezes sobre estes temas.
Um abraço.

domingo, 24 de março de 2013

ESQUIAR NO DESERTO



Para um típico açoriano dos sete costados, esquiar deve ser, talvez, das últimas coisas que pensaria fazer nas suas férias. E por razões óbvias, penso eu. Mas para um habitante do Dubai essa talvez seja a atividade mais divertida para fazer numa tarde de verão. Apresento-vos o Sky Dubai, a maior estância de esqui do Médio Oriente.
http://www.guiaemdubai.com/wp-content/uploads/2010/07/SkiDubai-AftView_520.jpg
Neste complexo de aproximadamente 25 andares de altura e 22.500m2 de área, a temperatura ambiente é mantida a uns confortáveis -2 graus Celsius, perfeita para esquiar no verão! No exterior poderá estar calor suficiente para estrelar um ovo na capota de um dos carros luxuosos que brilham no parque de estacionamento, sob o ardente sol de um dos desertos mais quentes do mundo. Mas dentro do edifício há neve espantosa (100% artificial) para esquiar, fazer snowboard ou simplesmente brincar. O Sky Dubai tem cinco pistas de diferentes graus de dificuldade, extensão, altura ou inclinação, capazes de fazer as delícias do mais vasto leque de esquiadores. Mas se não gosta de esquiar pode sempre dar um passeio pelas lojas ou bebericar um chocolate quente no revigorante ar fresquinho, um consolo quando lá fora estão mais de 40 graus à sombra. Mesmo não sendo um Vail ou Chamonix, a verdade é que o Sky Dubai oferece-nos três mil metros quadrados de neve perfeita no meio do calor das arábias.
Se vivesse no Dubai, talvez fosse uma das mais de 3000 pessoas que diariamente frequentam a estância de esqui. Mas como sou um condutor açoriano e preciso de encher o meu depósito de gasolina preferia que o simpático povo do Dubai viajasse para uma estância de esqui com neve natural e parasse de queimar uma quantidade obscena de petróleo e gás natural para fazer neve artificial. A energia utilizada no Sky Dubai e no gigantesco centro comercial onde se encontra equivale a 3500 barris de petróleo por dia, aproximadamente 556.500 litros de crude. Sendo este mais ou menos o número de visitantes do espaço, dá cerca de um barril de petróleo (159 litros) por pessoa. Com um barril de petróleo conseguimos extrair em média 105 litros de gasolina. Portanto, um dia nas pistas do Sky Dubai daria para conduzir um carro médio durante quase 2000km!
Mas os esquiadores do Dubai pouco se importam com isso nem tão pouco com o preço da gasolina na minha bomba preferida. Afinal, é o seu petróleo. Então porque é que eu me hei-de importar com a quantidade de petróleo que os árabes queimam nos seus tempos de lazer? Porque a crescente sede de petróleo dos países produtores da OPEP tem influência no preço da gasolina que eu e você metemos nos nossos carros! 
Se um aumento do custo do barril de petróleo leva, certamente, a um consumo racional do condutor açoriano, isso não acontece com o típico condutor da Venezuela, do Dubai, da Arábia Saudita ou do Irão. Porque o custo dos combustíveis nestes países é altamente subsidiado, ou seja, muito barato (entre 15 a 45 cêntimos por litro de gasolina, aproximadamente). Estes subsídios desafiam a lógica do comportamento económico racional: quando os preços do petróleo aumentam nos mercados internacionais seria de esperar que o consumo nestes países baixasse. Mas isso não acontece. Preços mais elevados deveriam fazer inundar o mercado internacional de petróleo para fazer baixar o preço. Mas com o crescente aumento do consumo dos países que até há bem pouco tempo eram sobretudo exportadores aliada à crescente escassez das reservas convencionais, menos petróleo sobra para exportar o que faz aumentar ainda mais o preço do barril. Ou seja, vendem menos mas mais caro e assim conseguem subsidiar os seus combustíveis e aumentar o consumo interno! E com os preços mais caros quem paga mais? O simpático condutor açoriano!
O preço do petróleo de três dígitos (mais de 100 dólares) veio para ficar e cada vez será maior. E de nada servem as novas descobertas e as novas técnicas de extração e produção. Aliás, contribuem para agravar ainda mais o preço.