segunda-feira, 27 de maio de 2013

A FATURA ENERGÉTICA PORTUGUESA: UMA DOENÇA MORTAL?

A economia portuguesa é como um doente que entrou em coma profundo e sobre o qual o futuro permanece uma incógnita. “Médicos” surgem de toda a parte (de dentro e de fora) diagnosticando com maior ou menor detalhe científico as causas da desgraça que se abateu sobre o país. Estamos em estado vegetativo e “ligados à máquina-troika”, com o credo na boca e desejando que ninguém nos corte o ar que nos vai mantendo acima do limiar da morte.
Vão-se aplicando tratamentos ao estilo Dr. House, mas a derradeira receita que nos faça sair deste estado de letargia e inexplicável inércia tarda em surgir.
Quase todos os “doutores” que por aí pululam receitam o aumento das exportações como estratégia de aumento da riqueza e combate ao desemprego – não é a mesma coisa do que criar emprego -, que ameaça tornar-se a epidemia do século XXI na Europa e em Portugal (se já não o é). Em fevereiro chegaram as boas notícias: em 2012, as exportações subiram 5,8% em relação ao ano anterior, em contraste com uma redução de importações de 5,4%, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Convém enquadrar nesta temática o setor energético tentando perceber a sua contribuição para este balanço. No relatório publicado recentemente pela Direção Geral de Energia e Geologia, intitulado “A FATURA ENERGÉTICA PORTUGUESA”, constata-se que o saldo importador de energia do nosso país cresceu 4,2% em 2012 e em relação a 2011, totalizando 7,138 mil milhões de Euros. Este aumento foi substancialmente inferior ao registado em 2011 face a 2010 (+27,7%) mas o montante foi idêntico (7,1 mil milhões de Euros). No plano das exportações e sem prejuízo do registo de melhorias de +14,3%, em Euros, face a 2011, com principal destaque para os refinados e a biomassa (respetivamente +16,4% e +16,0%), o respetivo crescimento não foi suficiente para compensar o valor das importações (com uma taxa de cobertura de +37,4%).
Por sua vez, enquanto o Saldo Importador representou +67,7 % do Saldo da Balança de Mercadorias (+42,6% no ano 2011, +26,2% no ano de 2010), o peso das importações de produtos energéticos na mesma Balança de Mercadorias representou +20,4%, (+18,0% em 2011 e +14,1% em 2010).
Por último, o peso do saldo importador no PIB a preços de mercado foi de +4,3% (4,0% em 2011 e 3,2% em 2010), tendo o peso das importações de produtos energéticos representado +6,9% nesse mesmo indicador (+6,2% em 2011 e +4,8% em 2010).
Em 2012 e, em termos do valor importado de produtos energéticos, a dependência de Portugal face ao exterior permanece elevada, sobretudo no que se refere ao petróleo bruto e refinados e ao gás natural (respetivamente +80,8% e +12,5%), situação que, conjugada com o agravamento progressivo da globalidade dos preços de energia, gera consequências desastrosas para a economia nacional. De salientar, ainda, o brutal aumento das quantidades importadas de energia elétrica e de carvão para produção da mesma, face a 2011, respetivamente em +39,1% e +86,6%, devido ao facto de 2012 ter sido um ano de fraca hidraulicidade, e do carvão ter apresentado um preço competitivo relativamente ao do gás natural (respetivamente -24,2% para o carvão e +10,2% para o gás natural).
Estes dados agora divulgados consolidam e agravam a nossa dependência energética e sustentam a mais que urgente revisão da política energética nacional. Sem um setor energético sustentável não há economia que ressuscite nem cura que lhe valha. Esta é apenas mais uma machadada neste país enfermo. E já se vislumbra a “flat line” no monitor da “enfermaria troikana”.