sábado, 13 de julho de 2013

DEPRESSA E BEM...

…não há quem! Eis um ditado popular que se pode muito bem aplicar ao que se tem passado na política energética portuguesa e europeia. O novo mapa energético mundial sustentado pela revolução em curso nos Estados Unidos, está a despertar os europeus para uma realidade que lhes parecia pouco provável: o custo da energia americana caiu abruptamente enquanto no velho continente a tendência é oposta. A responsabilidade desta deriva tem um nome: gás de xisto (shale gas), uma fonte energética enclausurada em reservatórios subterrâneos atualmente acessíveis à custa do avanço da tecnologia, nomeadamente da famosa e polémica fraturação hidráulica (“fracking”). Para quem não conhece esta técnica, consiste na injeção de água misturada com areia e produtos químicos numa conduta (furo) previamente executado. Esta injeção, realizada a altas pressões, visa criar fraturas – daí a designação “fracking” – que permitem a libertação e posterior extração do gás aprisionado em rochas de xisto a profundidades consideráveis.

Como consequência da expansão e aperfeiçoamento desta tecnologia, os Estados Unidos viram o preço do seu gás natural tornar-se cerca de cinco vezes mais barato do que na Europa. Os europeus, lideradas por uma Alemanha decidida a acabar com a energia nuclear na sequência de Fukushima, prepotente e viciada em arrastar os restantes países da união para uma aposta em fontes renováveis altamente subsidiadas, têm-se mantido inertes nesta matéria numa estratégia de não azedar os “fígados” da Senhora Merkel. Esta política teve como consequência o aumento significativo do preço da energia elétrica na generalidade da Europa, inclusivamente na própria Alemanha. Aproximando-se eleições naquele país, a discussão em torno deste tema na campanha eleitoral germânica tem sido uma constante. Com a ameaça da independência energética dos Estados Unidos e com a escalada do preço da energia fruto das políticas europeias de inspiração germânica, a chanceler Merkel tem afirmado que após as eleições e num cenário de reeleição, irá baixar drasticamente os subsídios à energia renovável, tal como já estão a fazer outros países no limiar da insustentabilidade dos seus modelos energéticos.
Esta reviravolta na estratégia energética europeia deve-se, ainda, a dois novos factos: as enormes reservas de gás de xisto no centro da Europa (Polónia, Alemanha e Espanha) e os gigantescos reservatórios de petróleo e gás nos mares da Grécia e Chipre. Inicialmente resistente, por pressão dos grupos ambientalistas e dos interesses comerciais com a Rússia, a Alemanha sempre se opôs à exploração do gás de xisto na Europa. Mas face à competitividade industrial emergente dos Estados Unidos por via do baixo preço do gás explorado no seu território, a Alemanha pragmaticamente concluiu que terá de explorar as suas reservas de gás de xisto para reduzir o custo energético da atividade industrial, fundamental para a sua economia. Por isso, no espaço de meses, a Europa (leia-se, a Alemanha) muda de posição e reconsidera a utilização do “fracking” e exploração das suas reservas.
Estes últimos desenvolvimentos têm apenas uma conclusão: a Alemanha ignorou os sinais vindos do outro lado do Atlântico e na ansia de impor à Europa, a um ritmo quase vertiginoso, a sua indústria eólica e solar. O gás de xisto pode vir a ser um recurso importante no equilíbrio energético europeu e desempenhar um papel determinante no relançamento da sua debilitada economia. 
Há que estudar este assunto com cautela, analisando muito bem a relação custo-benefício do “fracking” e legislar em conformidade com as exigências ambientais. A integração das energias renováveis e o aproveitamento de recursos endógenos é fundamental na matriz energética de qualquer país ou região. No entanto, exige-se racionalidade, equidade e acima de tudo, sustentabilidade. Definitivamente, depressa e bem não há quem.

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