terça-feira, 10 de setembro de 2013

SÍRIA: A CONFUSÃO QUÍMICA E O JOGO DO PETRÓLEO

No dia 21 de agosto último, mais de um milhar de pessoas foram mortas na sequência de um alegado ataque com armas químicas em Ghouta, arredores de Damasco, a capital da Síria. Esta chacina que deixou o mundo em suspenso, levou os Estados Unidos, Inglaterra, Israel e França a levantar o espectro de uma intervenção militar concertada contra as forças de Bashar al Assad, segundo eles o ordenante do ataque. Este é um dos últimos episódios de um conflito que já assume características genocidas. O número de mortos ultrapassa as 100.000 pessoas, a grande maioria dos quais foram assassinados pelas tropas de Assad. Estima-se que 4,5 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas. Observadores internacionais confirmam a cumplicidade de Assad na preponderância destes crimes de guerra contra o povo sírio. A ilegitimidade deste regime e a legitimidade da revolta contra ele é clara e inequívoca.
Enquanto os EUA e Israel têm tomado a iniciativa de reafirmar sólidas evidências de que o último ataque foi claramente perpetrado pelo regime de Assad, algumas questões abrem um leque de incertezas sobre a origem da chacina. Permanece, agora, a dúvida se o ataque – que parece irrefutavelmente químico – foi efetivamente ordenado pelo regime que lidera a Síria ou se terá sido promovido pelos rebeldes com “cumplicidades externas”.
Esta questão das armas químicas faz recordar a intervenção militar no Iraque em 2003, quando os Estados Unidos depuseram o regime de Saddam Hussein com o apoio da Inglaterra e contra a vontade das Nações Unidas. A justificação da operação baseou-se na ameaça das famosas armas de destruição maciça iraquianas, as tais que nunca foram encontradas como já era esperado. Nem químicas, nem biológicas, nem nucleares. Nada foi encontrado em solo iraquiano. Os reais motivos foram outros, indisfarçáveis aos olhos do mundo.
A ligação entre a segunda guerra do Golfo e o conflito sírio parece evidente e tem um único denominador comum chamado petróleo. É mais do que conhecida a sensibilidade geopolítica desta fonte energética e a capacidade humana de a usar como arma de controlo dos mercados internacionais. Esta sim é uma arma devastadora. A questão que parece cada vez mais perturbante e evidente é: até que ponto chegam ou chegarão as nações, nomeadamente as ocidentais, no jogo geopolítico do petróleo? Será aceitável admitir que são capazes de “jogar” com a instabilidade política destes países originando flutuações positivas nos preços do petróleo potenciando negócios de valor incalculável aos especuladores da alta finança (a maioria deles americanos e ingleses)? E ao dizer-se “jogar” será admissível aceitar pacificamente que os “peões” são os milhares de inocentes seres humanos que perdem a sua vida sempre que alguém quer ganhar dinheiro? A simples suspeita de uma eminente intervenção militar na Síria fez disparar os preços do petróleo (WTI e BRENT, este último o que interessa a Portugal) em mais de 10% em dois ou três dias. A ameaça do alastramento de um conflito com raízes na Síria que afetaria a complexa teia petrolífera do Médio Oriente, com a possibilidade sempre presente nestes conflitos de bloqueio do Estreito de Ormuz por onde passa 20% do petróleo consumido em todo o mundo, lançou o pânico nos mercados energéticos.
Depois de terem comprado os futuros do petróleo provocando a queda dos preços com engenhosas manipulações económicas, é chegada a hora dos especuladores entrarem em ação vendendo caro o que compraram barato ao longo de meses, enchendo os seus cofres com dinheiro manchado de sangue inocente.

É este o “jogo” do petróleo com o espetro da cumplicidade das nações que manipulam tudo e todos. Até porque nem elas mandam. Manda quem tem o dinheiro!