quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A REINDUSTRIALIZAÇÃO DA EUROPA: DO SONHO AO SONHO


Numa intervenção feita na abertura da Conferência sobre “Política Industrial Europeia: um renascimento industrial”, que decorreu recentemente em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso incitou os estados-membros a apostarem na reindustrialização, como estratégia de promoção do crescimento e do emprego e como pilar da sustentabilidade da retoma da economia europeia.
Questionado sobre a importância desta nova orientação política para a Europa e a importância da reindustrialização, Durão Barroso não hesitou: “É essencial fazê-la, de modo a ganhar competitividade“. Hoje em dia a condição global é cada vez mais intensa e é por isso que as reformas que estamos a promover na Europa são indispensáveis, que é para que a indústria europeia, nomeadamente a indústria de alguns países, que perdeu competitividade nos últimos anos devido a vários fatores, possa recuperar essa competitividade perdida e contribuir para a recuperação das nossas economias”, acrescentou o presidente da Comissão Europeia.
“A economia da Europa não pode sobreviver de forma sustentável sem uma base industrial forte e profundamente reformulada” e a “Europa é líder mundial em muitos setores estratégicos, como as indústrias automóvel, aeronáutica, espacial, farmacêutica, química e na engenharia”.
É, pois, “necessária uma visão global centrada no investimento e na inovação, mas também na mobilização de todos os instrumentos disponíveis para fomentar a competitividade das empresas europeias”.
O que o ilustre presidente não explica é como se pode “encaixar” esta retoma da indústria europeia no novo paradigma da energia que deriva da previsível autonomia energética dos Estados Unidos daqui a muito poucos anos. Enquanto os europeus continuam cegamente a curvar-se perante uma Alemanha que pretende impor o seu modelo energético baseado no subsídio a fontes renováveis (eólica e solar), os americanos inundam-se de gás natural de xisto cada vez mais barato. O “boom” verificado nos últimos dois anos na extração deste recurso energético atirou o preço do gás natural nos Estados Unidos para valores cerca de três vezes inferiores aos europeus.
Cheap natural gas lures E.U. to U.S. shores
Conclusão: parte da indústria a que Durão Barroso se refere, principalmente a de maior intensidade energética, está a mudar ou já se mudou para o outro lado do Atlântico! Entretanto, alguns países europeus, entre os quais a Polónia e a Espanha, já começam a desafiar os alemães. Recentemente surgiram estudos geológicos que confirmam a existência de notáveis reservas de gás de xisto nestes territórios contrariando os germânicos de continuam a afirmar não ser este o caminho a seguir. Porque não lhes convém.
A questão é simples: se a Europa assume que não quer correr o risco de permitir as polémicas técnicas de extração de gás de xisto em solo europeu, trata-se de uma decisão legítima e preventiva em defesa do ambiente. Mas não parece ser esse o verdadeiro motivo. Neste cenário, não valerá a pena falar em reindustrialização pois o preço da energia nunca o permitirá. Não deixa de ser curioso o facto de a Europa que invoca razões ambientais para não querer explorar o gás de xisto face às dúvidas que levantam as técnicas de extração, ser a mesma que está a importar quantidades exorbitantes de carvão dos Estados Unidos, muito mais poluente do que o gás natural e do qual os americanos já não precisam.
Assim sendo, o custo da energia, um dos pressupostos que determinou a desindustrialização do ocidente e a transferência desse poder para as economias asiáticas emergentes, baixou consideravelmente nos Estados Unidos, país que efetivamente assiste a uma retoma industrial graças à aposta no gás natural. Na Europa assiste-se a uma intrigante inércia e subserviência à vontade dos alemães que enquanto liderarem a política energética europeia manterão o custo da energia impeditivo de qualquer sonho de reindustrialização.